terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A Negra da Estação

Fotografia de LM

Fui o metro esperar
A Bedford, na estação
Quando ouvi afinar
Na voz da confusão

Disse alto posso jurar
Numa voz que acetina
“Fica pela terra do Sam”
Como se me lesse a sina

Acotovelei, pisei
Sem pedir sequer perdão
Furei só para falar
Com a negra da estação

Tinha pele bombazina
Enrugada de saber
Cabelos feitos crina
Para a cara enobrecer

Os dedos curvados
Agarravam lentos
A lira das trovas
Da negra lamento

Acotovelei, pisei
Sem pedir sequer perdão
Furei só para falar
Com a negra da estação

“Pagam-me para adivinhar”
Soprou-me com envelhecer
“Há os que louca me chamam
Há os que me dão de beber”

“Podem não acreditar
Porque é gasto o meu sermão
Mas hei-de revelar
O destino em canção”

Nesse dia conheci
A lenda da estação
Com cores de entendimento
Pintou a negra a lição

LM

Sem comentários: