segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Domingo

Fotografia de LM

Estou em dieta de filmes devido a uma overdose de trabalho. Felizmente na corrida para o comboio, ou a tentar não repetir a porta que insiste em fechar-se no nariz no momento em que entro no metro, o meu MP3 player dá-me música e não tenho definhado com sede. A Time Out Magazine, a celebrar o 10º aniversário, escolhe como um dos Top 10 de Nova Iorque Brad Mehldau. Fui convidada esta semana a um salto até Tokyo, com o pianista. Entre Gershiwn e Radiohead reinventados, é ficar para escutar a respiração da pedaleira e os suspiros (num Live) de prazer. Resta agradecer a viagem…
Por falar em jornadas, com um pé no Joe´s Pub e outro desse lado do oceano, Ana Moura ajudou na ponte. O local é sedutor, no mínimo. O palco pequeno abre-se em meia lua para namorar com o público, e num estilo D. Juan desavergonhado conquista sem esforço, deixando os intérpretes algo desprotegidos. Acho que vem daí o assombro.
Primeira guitarrada. Era domingo. Depois vem ela, num elegante vestido preto e numa postura de dáDIVA. Ninguém se zangou por receber tanto. A Ana é doce. Às vezes acho que demasiado para um fado dorido ou carrasco. Ninguém esquece a tenra idade e perdoa o gaguejar em inglês, quando tenta reproduzir a canção. Nem é necessário. Os ouvintes, maioritariamente estrangeiros (quem escreve é uma portuguesa), perceberam a pureza da voz e a vontade. Não resisti à chamada. Lá me juntei a ela, do meu lugar, erguendo a voz num “canto o fado”. Como gosto, como gosto!!
Getting chilly outside… o Outono bateu à porta (e entrou) e Nova Iorque começa mais uma transformação. Mudam as cores das folhas, o parque sossega cedo à noite, as praças arranjam cobertura, veste-se mais uma camisola. Vou ter saudades dos exageros do sol. É que me trazia o meu mar, mesmo quando nem estava perto. Temo que não demore a ficarem pintadas de branco, as ruas. A cidade não se dá muito a transições. Estações intermédias ficam guardadas num canto da prateleira onde quase nem se podem ver, como aqueles livros que esquecemos. É que, como tudo o resto, aqui a conta é certa: ou oito ou oitenta.



Setembro de 2005, NY

LM

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