terça-feira, 1 de abril de 2008

ENTRE NÓS

ELA
"Liga-me, por favor!"
Preciso de revolver as entranhas, porque me dói. Há poucas pessoas a quem posso contar-me. Há tu! Liga-me, por favor!Preciso de perceber...me!


ELE
"Sabes que ligo"
Eis senão quando tentava explicar à Alexandra (a A senta-se ao meu lado sempre que estamos no mesmo país) que no fundo sou um rapaz frugal, descobri na resposta a natureza fundamental do teu erro: mostras as asas a mortais. Depois de mim e do verbo que então inventámos, o que esperavas? Amor? Quando muito. Bah.


ELA
"Sa(m)pa"
Tsunami- Onda ou uma série delas que ocorrem após perturbações abruptas que deslocam verticalmente a coluna de água, como um sismo, actividade vulcânica, deslocamento de terras ou gelo ou impacto de um meteorito dentro ou perto do mar…causando grande destruição.

É assim que me descreves. Tu, que me conheces do avesso, que já tocaste o sítio dos remendos e rompeste noutro lado, ajudas agora a suturar o que faltava, o que me faz falta. Vês como nos rimos do que somos, do que nos tornamos e do que vemos um no outro? Assim me lembro que este não é o último dia, nem que será tão pouco o amanhã mais derradeiro que o hoje. Mas sempre consciente que há que gastar os pés, na possibilidade que a alma se esvaia num sopro mais rápido na hora seguinte, porque ninguém sabe que hora é essa, quando vem ou se está marcada. Dizes-me que posso assustar. Digo-te que não sei como entrar sem tudo. Se não me aproximar inteira, por inteiro, não me sinto verdadeira, em verdade te digo. O conta-gotas nunca foi a minha medida, e se o princípio não é o muito, há-de ser quando, afinal? Rabear de gatos, pés de pêlo, miar assustado. Renego todo esse jeito, que não é o meu. E se não me querem assim, pois bem, que me deixem, porque é assim que quero continuar a ser!
PS- Se o Tsunami é capaz de grandes massacres, porque é que sou eu que acabo sempre desmanchada?
Gosto de ti, como sabes.

ELE
"Caetano, anda ver aquele preto que você gosta!"

Sampa- Porque és o avesso, do avesso, do avesso, do avesso.
Descrevo-te como te sei. O mar só é negro onde é mais profundo e é só um lago se não for inconstante. Só é gelado porque vence o sol. Braços de mar a favor de outro corpo e as marés são quando mergulhas no teu. O meu desprezo pelo senhor que escreve o dicionário. Patético. Digo-te que podes assustar. Dir-te-ia que não a mim, que podia ter-te sorvido de um trago. Melhor não. Apercebo-me que alguma comparação poderia, de repente, fazer-me parecer... patético ;)

ELA
"My body is a Cage"

Nunca dizes que sou perfeita. Ao contrário, atiras-me com as verrugas da alma para cima, destapas as vergonhas, inclinas-me perante os pecados. Tudo meu, claro. Podia enfurecer-me se não te soubesse de cor mas és o único que, depois de espetares o ancinho na terra árida, fazes crescer flores. Cheguei à tona. Resta-me agora reaprender a nadar. Nunca dizes que sou perfeita. Talvez por isso me faças pegar nas minhas manchas e deixá-las ao relento, para que a noite desculpe a erosão. E eu desperto depois, já na mudança. Há aquelas manchas, contudo, que são intocáveis, nódoas tingidas a quente e que nem o tal “Amor” é capaz de varrer. Mas até essas tu enfrentas, sem acusações, sem intransigências. Fazes-me gostar de mim, ver que sou, afinal, mais gente. Só posso estar grata pelo que fomos. E agora pelo que somos.

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