quinta-feira, 10 de abril de 2008

O LOBO

Fui curada a aspirinas, não com sonetos. Garanto que as palavras teriam escorregado melhor. Nem construí bibliotecas. A minha mão coube com mais facilidade em casas de bonecas e saiinhas empinadas. Foi na música que aprendi a escrever (isto se alguma vez o souber) e não nas páginas dos grandes clássicos. Preferia a intemporalidade dos sons de Puccini e o dramatismo das suas mulheres aos livros. As histórias, via-as todas através de uma pauta, primeiro em clave de sol, depois em clave de fá. Jogava as rimas com as notas e pontuava com bemóis e sustenidos na voz. No dia em que me apresentaram o Lobo, um professor de cabeleira cheia e voz de barítono -pelo menos soava assim na altura-, olhar encoberto e pulso dominador, nesse dia saltei de um compasso binário para um ternário. Nesse dia deixei de ser eu e a música e passei a uma relação poligâmica com os contos. Tornei-me no capuchinho vermelho. Demasiado inocente para ser verdade.
Ainda não descobri o final da história. Espero que esteja longe, o epílogo, e ninguém comeu a avozinha nem o meu lanche. O bolo é de mel para não azedar, o vinho é dos que engrandece na garrafa. Corro só o risco de pecar, por falta de idade para transportar bebidas inflamáveis na sacola e por picar uma fatia, depois de a cortar à dedada. Se espero muito, quem amarga sou eu, não o petisco…
E pensar que um dia vi um Lobo!
LM

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