segunda-feira, 7 de julho de 2008

Um beijo




O abraço foi desentendido, desencaixado. Lembrei-me hoje do meu casaco azeitona que velava os joelhos e se ajustava no pescoço. Tu, não sei o que vestias nem interessa agora. Porque o teu abraço foi assim, como quem quase não dá. Já não me vias há quanto tempo? Claro, não contas os dias. Limitaste-te a dizer

-Estás com bom aspecto!- como se esse fosse o único beijo possível naquele momento.

Conversamos calados o tempo todo, à excepção de algumas frases rápidas e inúteis. TEATRO no jardim. Ri-me da personagem de um actor que já beijei. E pelo menos ele soube enganar(-me) num beijo. Ri-me sobretudo porque já sabia que depois de me rir da personagem do actor que já beijei e me enganou, te ias despedir… sem um beijo. Ainda me abraçaste, outra vez. Mas continuamos desentendidos, desencaixados e calados. Largaste-me para o próximo voo e completaste o “fica bem” com a tua mão direita a descer da minha franja aos lábios. Recuaste. Foi aí que abri um “tu também” sarcástico. Não era isso que queria dizer. Menti-te. Preferia ter-te rogado mil pragas e desejado que partisses o coração em pedaços incontáveis e que nunca mais se ajustassem. Porque o abraço foi desentendido, desencaixado e conversamos calados o tempo todo.

Lembrei-me hoje. Porque te lembro todas as fracções do dia e, por mais que insistas em ceder, eu continuo aqui. Para ti.

Vês como sou idiota?

LM

1 comentário:

Anónimo disse...

Ligo-te hoje e falamos...