segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O que mais dói...

Hoje é dia de tirar o disfarce empoeirado do armário. Ou os fantasmas…
Os confetis e serpentinas cobrem o alcatrão, e o que restava de cinzento da ilha transformou-se numa paleta animada. Bem, nem tudo. Um santo qualquer a quem não acendi velinhas resolveu amuar e mandou chover. Não tive coragem para lhe dizer “vai tu!”, por isso lá me molhei! Há outros menos santos (ou não) que apontam para o lado e vão lendo aquilo que vemos (o que prova que a redundância já se implantou no livro de estilo dos canais portugueses) e dizem que faz sol. Como ficamos, meus senhores? Eu cá só vejo água. Deve ser da maltida dor de dentes que regressou e, na impossibilidade de comer, bebo! Ou será da ilha? Aconselharam-me cachaça, o que até acho piada por condizer com a época das fantasias e palhaçadas. Depois de uma noite de insónias e penar, decidir visitar o dentista. Nada me custa tanto. Se me querem mandar a algum lado feio é só dizer “Olha, vai para o dentista!”. Finalmente percebi a razão da resistência. Não é que o senhor de bata branca e diploma pendurado por cima da cabeça, falou, falou, falou... sempre, claro está, com escavadoras, espelhos e sorvedores de saliva enfiados na minha rica boquinha aberta até ao impossível. Escusado será dizer que me limitei a gemer, abanar a mão ou piscar os olhos (afirmativamente), já que não podia fazê-lo com a cabeça. Raio de hora, esta, em que o homem de branco comentou política, religião e futebol e eu, amarrada à dor de dentes, concordei com as mais estúpidas afirmações. Tudo porque as mãos se cravaram na cadeira à medida que ia progredindo o tratamento, impedindo o gesto brusco de “não, não acho isso”, e os olhos pestanejaram mais vezes para desprender as lágrimas que entretanto apareceram com o barulho das brocas.
Assim, este ano, decidi disfarçar-me de dor. Pode ser que alivie quando tirar a máscara!

LM

Sem comentários: