quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

De que cor é o amor? (continuação)

"...A Maria sentia o rosto quente, como se o sol tivesse dormido ali, nas duas faces, e se esticasse depois ao pescoço, descesse pelos braços e pelas pernas e iluminasse o corpo todo. Não sabia o que se passava mas sabia que era bom.
Domingo. A menina tinha convidado o Tomás para um lanche no jardim lá de casa. No jardim, a Maria gostava de ver a mãe tratar das rosas, tulipas, margaridas, papoilas, jasmins, e transformar aquele lugar num lugar de sonhar, onde só faltava um castelo para ser igual ao dos livros. Maria sabia que a mãe, depois de mimar as plantas e alimentar a terra, puxava sempre aquela madeixa de cabelo teimosa que caía à frente dos olhos e acabava por sujar de castanho a testa. Ficava depois à espera que a mãe a chamasse para a última tarefa: regar os canteiros.
- Quando cai, a água é como se beijasse a terra- explicava a mãe da menina- e a terra vai guardar a água e deixar que a alimente. Isso faz com que as flores cresçam, fiquem mais coloridas, vivas!
Maria pensou se não seria também isso que lhe tinha acontecido. O beijo que o Tomás lhe atirou tinha-a deixado a sorrir, rosada e com vontade de crescer. Continuava sem saber que nome dar ao que tinha sentido e mal conseguiu dormir nessa noite. No tecto do quarto o pai tinha colado carneirinhos brilhantes, daqueles florescentes, os que se notam quando o candeeiro é desligado. Tentou contá-los para fechar os olhos mais rápido mas já tinha chegado ao número trezentos e setenta e oito e nada!


Um dois três
Como será em chinês?
Quatro cinco seis
Em francês até eu sei!



Sete oito nove
Vem o dez e o onze morde
Doze, treze, cem
Sabe a pastéis de Belém


Cento e trinta dois
Qual o dente que te dói?
Cento e sessenta
É açúcar ou pimenta?


Chegando aos duzentos
É o cabo de tormentos
Trezentos e cinco
Aperta agora o cinto


Somando só mais três
Acabou-se a gaguez
E venha o setenta
Na conta que se inventa..."


LM

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