"(...)
É pequena
Levou pouco fermento
Não há prédios
Mas giram cata-ventos
As ruas são
Bordadas de cinzento
E há branco
A caiar o convento
Já as casas
São salpicadas de outra cor
E há quem diga
Também de amor
Há balancés
Arbustos atrevidos
E árvores
Um pouco mais crescidas
Esta Vila
Tem acesa no nome
Aquela luz
Que a tira de ontem
Acontece
Um dia e outro mais
Vila com luz
E sonhos nos beirais
Mas há dias assim e hoje o céu está alcatifado com nuvens. Salvador veste o casaco de chuva amarelo e um capucho do mesmo tom e vai até à estação dos correios, que fica mesmo em frente à barbearia do Senhor Clemente. 7 da manhã e ainda a Vila está adormecida. Só o Lucas, o pasteleiro mais famoso das redondezas (e o único!), já colocou o chapéu alto e a bata impecavelmente cuidada, para trabalhar a massa dos bolos e depois decorar com cremes açucarados, pepitas de diferentes sabores, nozes, avelãs e cerejas. E já cheira a delícias!!
Antes de distribuir as cartas, encomendas e postais pela Vila, Salvador separa-as por ruas e passa os olhos pelos nomes que aparecem no lado direito dos envelopes, mesmo abaixo dos selos: os destinatários! São as pessoas a quem tem de fazer chegar as notícias ou as saudades escritas, sejam curtas ou mais demoradas, tragam desenhos, gotas de perfume ou até segredos! Foi nessa altura que reparou num envelope tosco e com os cantos deformados.
- Deve ter feito um longo caminho - pensou Salvador- de barco ou avião, e talvez tenha passado por tempestades no mar ou no ar para chegar à Vila tão cansado e sujo.
Mas este envelope não dizia de onde vinha e só se conseguia ler:
MAIS-QUE-TUDO
da Luz
O resto tinha -se apagado.
- Mais-que-tudo- disse em voz alta o Salvador depois de ajeitar os óculos duas vezes.
(...)"
In "MAIS-QUE-TUDO"
Texto de LM
segunda-feira, 30 de junho de 2008
sábado, 28 de junho de 2008
quinta-feira, 26 de junho de 2008
O NOSSO PALÁCIO
Pedra a pedra, construí um palácio
para o meu primeiro amor
pus um tapete vermelho
e esperei-o como um espelho
que reflecte a preto e branco
amei-o tanto
sem cor
O príncipe chegou
e quando pressentiu
que eu talvez fosse pedra
fugiu
Frase a frase construí um palácio
para o meu segundo amor
entre as rimas de um soneto
um retrato a branco e preto
que nos julgava mortais
amei-o mais
que a dor
O príncipe chegou
e quando pressentiu
que eu talvez fosse um verso
fugiu
No meu corpo vou construindo um palácio
como quem vê o sol pôr
feito apenas dos meus passos
dos desejos e abraços
que nos fazem não ter fim
amo-te sim
amor
O príncipe chegou
e quando pressentiu
que eu era uma mulher
sorriu.
JORGE PALMA
Quando escrever como tu, vou pegar num copo de vinho e deitá-lo abaixo. Abaixo da mesa. Que seja tinto e que matize o chão para me lembrar do dia. Porque um dia quero escrever uma palavra como tu.
LM
para o meu primeiro amor
pus um tapete vermelho
e esperei-o como um espelho
que reflecte a preto e branco
amei-o tanto
sem cor
O príncipe chegou
e quando pressentiu
que eu talvez fosse pedra
fugiu
Frase a frase construí um palácio
para o meu segundo amor
entre as rimas de um soneto
um retrato a branco e preto
que nos julgava mortais
amei-o mais
que a dor
O príncipe chegou
e quando pressentiu
que eu talvez fosse um verso
fugiu
No meu corpo vou construindo um palácio
como quem vê o sol pôr
feito apenas dos meus passos
dos desejos e abraços
que nos fazem não ter fim
amo-te sim
amor
O príncipe chegou
e quando pressentiu
que eu era uma mulher
sorriu.
JORGE PALMA
Quando escrever como tu, vou pegar num copo de vinho e deitá-lo abaixo. Abaixo da mesa. Que seja tinto e que matize o chão para me lembrar do dia. Porque um dia quero escrever uma palavra como tu.
LM
quarta-feira, 25 de junho de 2008
terça-feira, 24 de junho de 2008
segunda-feira, 23 de junho de 2008
quinta-feira, 19 de junho de 2008
MAIS-QUE-TUDO
"Salvador levanta-se todos os dias com a coragem de quem vai conquistar o mundo. É que na estação das chuvas não é nada fácil pedalar na bicicleta gasta e enferrujada, fazer soar o trrrim-trrrim rouco da campainha e manter secas as cartas que carrega no saco castanho-escuro. Às vezes o saco vai tão pesado que Salvador nem sabe bem se o deve pendurar de lado ou atrás porque, de qualquer uma das formas, precisa de encontrar o ponto de equilíbrio certo para guiar a bicicleta na velocidade de sempre e parar à hora de sempre nas casas de sempre. Salvador sabe o mapa da Vila da Luz como sabe quantos dedos tem nas mãos (em caso de dúvida, são 10. Claro, podiam ser menos…ou mais!). Sabe que a seguir à Quinta Perfeita da Senhora Deolinda está a casa do mestre Afonso. Sabe que o marco de correio da Rua da Bica é partilhado por todos os moradores e que a Amélia faz questão de lhe dizer “Bom dia!” e oferecer uma taça de chocolate quente sempre que ele traz novidades.
(...)"
IN "MAIS-QUE-TUDO"
Texto de LM
(...)"
IN "MAIS-QUE-TUDO"
Texto de LM
terça-feira, 17 de junho de 2008
domingo, 15 de junho de 2008
sexta-feira, 13 de junho de 2008
ADEUS
Pediste que escrevesse mil palavras. Como se a vida se medisse em caracteres e eu chegasse ao pequeno-almoço, como um matutino com as notícias trágicas de há dois dias. Então aqui vai: NÃO ME APETECE! Lê-me antes na franja que cresceu (não tanto como essa barba agreste), nas pestanas que se colam anestesiadas pela falta (tua), nas sardas que se abalroam no nariz (tenho mantido a relação promíscua com o sol), no anel de metal do dedo gordo (que perdi e não deste conta), nas unhas pintadas de púrpura (mal pintadas), no gesto (especialmente o que não faço), na cozinha impecavelmente tratada (sem desprimor para a tua), na luz que fica acesa quando vou caminhar (para que me vejas no mar), da vanidade que é calcular as semanas para o reencontro (que evitas). Percebes que o acento é grave, porque estou zangada. Sabes que não há parágrafo que te valha nem maiúscula que te comece. De novo. As vírgulas estão exaustas de tanto uso e só vejo um final possível: um ponto. FINAL(mente).
LM
LM
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Dois Pontos
É vê-los assim: estupidamente petrificados perante o relógio (que é o único que avança). Estão à espera, sempre à espera. Agora esperam o almoço. Melhor, a hora de almoço. Para quem pouco faz (com pretensões a NADA), este é o único verbo de acção que se aplica: esperar. A conta não podia ser outra que não subtrair à vida. Eis como se faz um inútil: passa o tempo a contar o tempo que falta para. Pena não se poder alugar o tempo dos outros (comprar não! Hoje em dia sai caro!). Seria muito mais lucrativo aplicá-lo aos que nunca têm tempo suficiente (= recessão económica). Queixam-se de quê, afinal? Ah, sim: de viver!
LM
LM
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Eu pensei que tinha o mundo nas mãos
"Desde miúdo diziam que eu era muito apto e tendente para a solidão. Os meus pais e amigos queriam tirar-me daquilo e eu estava tão bem assim. E a tristeza também! A tristeza é o meu território, mas a tristeza nunca me derrotou. Acho que há uma janela para as coisas nessa condição de triste. Hoje temos medo desse sentimento, como se fosse uma doença."
MIA COUTO In DNotícias
Fotografia de LM
terça-feira, 10 de junho de 2008
domingo, 8 de junho de 2008
sábado, 7 de junho de 2008
QUERERIA
Tudo o que queria era que não me deixasses ficar em casa numa tarde de domingo. Também não queria que me levasses a sair, se tudo e todos estivessem de orelhas na rua. Queria que adivinhasses o que eu queria, e na altura em que quisesse outra coisa fingisses também querer. Por exemplo, agora quero sair daqui e tu estás preso à televisão, a namorar-lhe um jogo perfeitamente dispensável quando já sabes o resultado e viste a repetição da vitória. E queria que tivesses as mãos fora do comando e te decidisses a aperfeiçoar os riscos do meu rosto em vez de pressionares o volume. Mais alto, menos, mais, mais, menos. E neste exacto momento queria que me trouxesses água porque tenho os pés inchados e os lábios gretados… sem os beijos bem-me-quer-para-sempre. Ai! Sabe a tanto! Menos, menos. Intervalo. Queria que em vez da cozinha visitasses o vizinho e lhe roubasses uma das flores brancas que persistem no parapeito (não me lembro de lhe dares nome). Vai lá. Atira-lhe a desculpa óbvia: comentar os golos! Mas se não quiseres, eu deixo de querer também, porque afinal tudo o que eu queria tem apenas duas letras e nelas cabes TU.
LM
LM
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Cada vez mais limpo
Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah! Eu usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo...
Cada vez mais limpo...
Cada vez mais limpo...
Ivan Lins
quinta-feira, 5 de junho de 2008
quarta-feira, 4 de junho de 2008
segunda-feira, 2 de junho de 2008
MAR
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