Há quem brigue por um pedaço de céu, ou se esgote até provar uma fatia de sonho. Gosto sempre de quem enfrenta ventos frios, calculados, egoístas, e não se rende às evidências que são, hoje mais do que nunca, a falta de capacidade de emergir de uma crise há muito previsível. Gosto sempre de quem multiplica músicas, letras, passos, ideias, num mealheiro sem fundo e depois, com a coragem de quem se atira para voar, deita tudo num cenário e reza para que o público perceba as lágrimas que estiveram em mais de um ano de tentativas. Gosto sempre de ter os amigos por perto e de os ver sorrir com os comentários das nossas personagens, ou brilhar com a cadência da melodia. Gosto sempre que não me façam adormecer e desistir. Gosto principalmente dos que (apesar de serem muito sabem que não são mais gente) nos abraçam com palavras agradecidas, sem que o tenhamos prescrito. Gosto dos que não se esquecem que, para que nasça a obra, seja ela destapada de defeitos ou com lascas no som, com anedotas desapropriadas à idade de alguns ou momentos que tocam no centro de outros, é preciso lutar. Pena que as cadeiras, porque nos negam apoio, seja num contacto ou num desabafo, continuem às vezes vazias. Gosto sempre quando se enche de vida a sala, para que renasça também o palco. E porque gosto tanto assim do que gosto, esta não será a minha última canção.
LM
Fotografia de Sofia Vieira (Manuela Azevedo e Gonçalo Mello)
LM
Fotografia de Sofia Vieira (Manuela Azevedo e Gonçalo Mello)
2 comentários:
Leio, releio e volto a ler esta "fatia de sonho"... É de facto, no Futuro, que está verbo.
Um beijo por tudo e pela certeza das músicas que hão-de encher as cadeiras...
Descobri isto hoje!
Que bonito Lili!
Um grande Beijinho
Gonçalo Mello
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