quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A TRADIÇÃO

Uma manhã agasalhada. O cheiro a sonhos ainda anda pela casa. De pés descalços, a lembrar que é Inverno, corro para a cozinha e deixo que a cadela me morda os calcanhares. Vou à procura de uma chávena. Leite quente. Há folhas de papel rasgadas na mesa e fitas acumuladas a um canto. A árvore pisca-me o olho, aprovando os presentes. Sento-me no sofá, depois de atirar as cortinas para o lado, cruzo as pernas e acerto as meias de lã às pernas. Respira-se o silêncio na derradeira alvorada na casa. Antes da missa e dos beijos apertados aos vizinhos e à família, é aqui que se celebra o verdadeiro nascimento: dentro de mim. Como se a cada ano as forças se renovassem, os laços se apertassem, os desejos se (re)fizessem. E tudo porque é Natal.

LM, Dezembro de 2006

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