terça-feira, 18 de dezembro de 2007

LOVE(D)

Embarco. O adeus (mais breve) faz-me repetir-te em imagens dos tempos que fomos só nós os dois, juntos. Encontro-te no meu ir, como se estacionar nunca fosse resposta às inquietações. Mas se gosto tanto de parar nas tuas palavras e deixar-me ficar nelas, perdurando o que nunca durou entre nós (sempre os dois) …
Decido contar-te onde estou. Perdida no aeroporto que já conheço, entre os gritos das crianças da época e o entusiasmo provocador dos crescidos que regressam. Sinto falta de fugir contigo. Íamos de mão dada, mesmo que separados, em ruas diferentes, em países opostos. Atravessávamos o mar com um beijo, aquele no canto da boca onde insistias pendurar o cigarro. Fumaste-me tantas vezes, esgotando o meu cansaço. Contigo era continuamente. Durava a vontade, a troca, o sal no corpo, o abraço faminto. A conversa num jardim escuro, com uma fatia de pizza a enganar o estômago, de madrugada. A mordida num bolo de cinema que fizemos por dividir. O telhado com estrelas e um horizonte sonhado. Os desejos em que nos enrolamos depois, temendo que nunca mais houvesse depois… era, afinal, medo o que nos consumia. Medo de ter e de perder, medo de chegar e de deixar, medo de saber que não voltaríamos ao mesmo lugar, os dois, só os dois.
O relógio não pára. Insisto bater a marcha com ele. O meu tempo é “para a frente” mas em dias como hoje, em que o gosto do avião me traz à boca a tua fronte, desisto de querer andar. Aí, só tu me fazes, de novo, apetecer ser dois. Sempre os dois.

LM

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