Onde está o duende?
Um duende, dois duendes
A conta é de somar
Chegam muito arrebitados
E quase sempre atrasados
Em lendas a cirandar
No bosque do miradouro
De orelhas pontiagudas
Vigiam o pote de ouro
No final do arco-íris
Com risadas bolachudas
Oboé é o duende anasalado
Tem os olhos verduscos
E o corpo amendoado
E é assim apelidado
Por estar sempre constipado
Com uns calções de cone
Como um gelado ao inverso
O oboé faz vibrar as palhetas
E afina a orquestra
Com um lá esperto
Segue lento e amuado
(tudo por estar adoentado)
E puxa de um lenço petiz
Para evitar que o vento
Lhe arrefeça o nariz
Já violoncelo robusto
Nunca se agasta de brincar
É um duende astuto
Com os pés de madeira
E um espigão a segurar
Gosta de levar em valsas
A mão da Beatriz
A quarta corda que abraça
Sempre em modo de graça
Até lhe corar o verniz
Diz-se que um e outro
São percebidos a deambular
Nas noites dos humanos
Mesmo que disfarçados
De folhas verde-mar
Com apetite insaciável
Prontos a devorar a cozinha
Entram de calcanhar manso
Nas casas com jardim
E nas outras vizinhas
Parecem sombras à espreita
E levam grandes sacos
Onde escondem o pão, o mel
E a fruta mais madura
Ao escaparem para o regato
Com água fresca na mistura
Começam a ceia demorada
As plantas servem de pratos
E os talos de garfos
Antes de levantar a alvorada
Ninguém sabe porque ninguém viu
Mas assim se faz um mito
Se espiares o silêncio do escuro
Quem sabe um dia um duende
Te deixe um desejo escrito
LM
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