domingo, 13 de dezembro de 2009

Querido Pai Natal:

Diz-se por aí que estamos em crise. As notícias não são, de facto, animadoras. Há portas que se fecham e, sobretudo, sorrisos que se amarram em desespero. Há gente que trabalha de sol a sol e, mesmo assim, não consegue enfrentar as suas parcas despesas. Sei que não é por mau comportamento nem por terem errado o tempo verbal quando te fizeram o pedido deste ano. Imagino que recebas demasiadas cartas, algumas ilegíveis, outras dispensáveis. Aceito que esta seja mais uma. Mas gostava que calçasses as botas de neve, gelasses o nariz nos telhados e arregaçasses o fato vermelho para escutar (sem analogias políticas) o coração do mundo. Está doente e enfadado. Nota-se pelo clima (que aquece). Os glaciares desprendem-se de preocupação e as florestas ardem de tanto pensar. Mais: nós, animais, que corremos e concorremos, que nos matamos, desgraçamos, esmigalhamos, estamos a pisar terrenos cada vez mais incertos, areias movediças, chão de colmo, e balançamos para o lado que mais nos convém. Afundámos o barco da economia e nem Noé conseguiu socorrer-nos. Agora estamos para aqui, caídos em desespero. Os velhos encostados por serem velhos, os novos parados por serem demasiado novos. Quem nos entende? Por isso, Pai Natal, este ano gostava de te solicitar, encarecida e ardentemente, um programa computacional que decifrasse mentes alheias. Pode ser que assim perceba. Não precisa de ser um presente. É mais uma encomenda. Pago com rabanadas e sonhos arrebitados. Deixo-te na janela um copo de leite, não vá sofreres de osteoporose!
Sempre agradecida,
Eu.

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