sexta-feira, 6 de março de 2009

De SEXTA a DOMINGO

Sexta-feira.

Outra vez: Sexta-feira.

Há quem o repita em doses incontáveis para beliscar a pele do fim-de-semana e acordar para a possibilidade de sonos esticados, de manhãs mais espreguiçadas e de pequenos-almoços com cheiro a mar nos olhos da varanda.
Não sei bem se a minha sexta-feira corresponde ao despontar de um tempo leve. Em tempo de escola, a sexta-feira adivinhava um sábado de aulas e ensaios. A música ouvia-se nos corredores de “tempo livre” e durava até os domingos. Ainda pequena, o domingo significava a voz. Quase sempre afinados, rezávamos pela manhã, numa escola primária, à falta de capela ou igreja no lugar. Na universidade, o final de domingo era de viagens, que começaram por ser enormes e se encurtaram com Braga no final do indicador. E a segunda. Voltava a esperança de repetir, vezes sem conta, sexta-feira, sexta-feira. A minha sexta-feira. A sexta-feira das vaidades criativas, dos ritmos nos pedais do piano de casa e das partituras dobradas a meio. Sexta-feira.
Aos 30, afinal ,tudo é o que era. O final de semana apregoado em tantas bocas das ruas a pique é, como sempre, o início de um mundo novo. Amanhã, 30. 30 caras de palmo-e-meio enfrentam o sábado com responsabilidade de gente de palmo-inteiro. Esticamos os braços ao céu, rodamos os ombros e bocejamos. Sempre o mesmo ritual, para acordar as pálpebras, as mãos, os pés. E domingo é dia de Sala Azul (disse-te que foi baptizada por mim?). Onde criaturas que acreditam criam. A partir de notas fazem-se pratos de cozinha, máscaras encantadas, paisagens portáteis. Subimos aos sonhos e trazemos os que podemos ao chão. Eles teimam em ficar suspensos acima do nosso umbigo. Nós não nos importamos.
E depois os trabalhos, os exames, a investigação, num mestrado que dá coceira no pensamento e lupa às ideias.
Mas este domingo, pela primeira vez em vezes tantas, vou NADA. Sem relógio, sem pressa, sem tempo. Com tempo. A ver se me consigo deitar ao comprido neste domingo. Comigo. Só comigo, e não me queixar do tempo. Que sobra.

LM

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