sexta-feira, 2 de maio de 2008

Entraste depressa na noite escura...

Evito-o a não ser para escrever. Prefiro que seja por palavras assentes do que por gaguez forçada pela falta de rede, em frases que assim se perdem ou alteram, ideias que não tive ou que tive ao contrário. O meu tira fotografias opacas e há duas somente que me agradam: uma ponte que se estende de um lado ao outro do pequeno visor rectangular; e a segunda guardo-a intocável porque é do sorriso mais feliz que conheço. Vê-se Brooklyn, nem se percebe o bebé Vasco. Mas há segredos que o telefone sabe guardar. Não os comuns, que até se podem roubar das mensagens instantâneas, mas aqueles que só o próprio utilizador decifra, num código de amantes. Pois foi no momento em que troquei o teu nome próprio e apelido pelo diminutivo -que criei para o teu cabelo- que me apercebi, qual acto de contrição, que te gostava tanto. Nesse dia lembro-me de sorrir sozinha, para o asfalto, os prédios, os cartazes, os carros. Um sorriso que pedi emprestado ao que tem o sorriso mais feliz do mundo. Nesse dia lembro-me de pensar que só podia ser perfeito, porque as tuas imperfeições não me assustavam e até as baptizei de diferenças. Juntei às outras coisas que não tínhamos em comum, e só imaginava um confronto especial, um laço de querer que iríamos puxando à vez, até amarrarmos de vez os nossos gostos ao gostar do outro. Nesse dia lembro-me de ti, do teu toque, da tua vontade de abraçar e de como dançamos ao som de um ritmo desordenado que ainda hoje não reconheço. Seria jazz? (levanta os cantos da boca). Não, os sons não são anárquicos, dizes-me tu. Nesse dia lembro-me de ser quinta, ou sexta. Lembro-me de tremer quando te vi e de temer porque ia deixar de te ver. Nesse dia não quis distância. Porque estavas ali. (Eu nunca saí do teu lado). Nesse dia quis que o teu nome ficasse sempre gravado da mesma forma. O diminutivo de 5 sílabas dava-te a grandeza que só eu percebo. Mas entraste depressa na noite escura. E hoje, depois de uma história que para ti nem chegou a começar e que para mim terminou triste, voltei a dar o teu nome próprio e apelido ao meu telefone.

LM

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